quarta-feira, 29 de maio de 2019

Semana dos Orgânicos é lançada com destaque para crescimento do setor no Brasil

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento quer aumentar a presença de produtos orgânicos nos mercados nacional e internacional. A intenção foi manifestada pela ministra Tereza Cristina e secretários da pasta durante o lançamento da 15ª edição da Semana dos Orgânicos nesta segunda-feira (27).
Intitulada “Produto Orgânicos – Melhor para Vida”, a campanha foi lançada na sede do Ministério com um lanche especial e uma feira de produtos orgânicos. Um dos objetivos centrais da mobilização é informar ao consumidor como reconhecer os alimentos orgânicos nos locais de comercialização e ampliar a relação de confiança com os produtores rurais.
Em seu discurso, a ministra Tereza Cristina destacou o crescimento da agricultura orgânica no Brasil e o aumento do número de agricultores registrados no Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos mantido pelo Ministério da Agricultura. Atualmente, cerca de 20 mil produtores estão cadastrados no Ministério.
“É com enorme prazer que abro esta semana de orgânicos no nosso ministério, uma iniciativa de que se repete há 15 anos. E cujo sucesso pode ser comprovado: a cada ano cresce, na faixa de 10 a 15 por cento, o número de produtores rurais registrados no Mapa que trabalham com alimentos orgânicos, provando que há espaço para todos no mercado. O setor já alcança faturamento anual bilionário, na casa dos R$ 4 bilhões”, declarou.
A ministra defendeu a qualidade dos alimentos produzidos no Brasil e ressaltou que o país pode aumentar suas vendas de orgânicos para o mercado mundial. Em visita recente à Ásia, a ministra identificou a possibilidade ampliar o comércio de orgânicos, principalmente frutas, para o Japão.
“O mercado que tem aí é crescente. Acho que nós temos aí uma avenida enorme para crescer neste segmento da agricultura e pecuária orgânica do Brasil”, disse.
“Existe mercado lá fora, existe mercado aqui dentro, inclusive um mercado que paga mais por estes produtores. Então é uma questão de organização do setor”, completou.
No evento, foi anunciado um acordo entre Brasil e Chile que permitirá a compra e venda de produtos orgânicos entre os dois países. Segundo a ministra Tereza Cristina, haverá uma adaptação entre a legislação dos dois países. “É muito importante essa troca inclusive para o crescimento desse setor nas exportações brasileiras”, destacou.
O embaixador chileno, Fernando Schmidt Ariztía, participou do evento e disse que o Brasil tem agora 17 milhões de novos consumidores de orgânicos “é o produto do futuro”, ressaltou.
Também participaram do lançamento os secretários de Defesa Agropecuária, José Guilherme Leal; da Política Agrícola, Eduardo Sampaio; da Agricultura Familiar e Cooperativismo, Fernando Schwanke; o interino da Inovação, Desenvolvimento Rural e Irrigação, Pedro Correa Neto e o presidente da Câmara Temática da Agricultura Orgânica do Mapa, Luiz Demattê.
Representantes da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), da Câmara Setorial da Agroecologia e produção Orgânica do Distrito Federal, além de outras entidades do setor também estiveram presentes.
Crescimento
Os participantes destacaram a importância da agricultura orgânica para a economia do país e o potencial de crescimento do setor.
O secretário José Guilherme Leal lembrou que é o Ministério da Agricultura o responsável pela base legal que controla a certificação e fomenta a produção orgânica no país. “O Brasil tem um dos sistemas mais seguros e rigorosos de certificação orgânica. Estamos falando de mais de 22 mil estabelecimentos rurais, mais de 700 mil hectares de produção orgânica. E esperamos que com a atualização do cadastro tenhamos um número maior em termos de área plantada”.
Ele lembrou que o consumidor tem feito cada vez mais demandas a este setor e disse que a secretaria de Defesa Agropecuária está trabalhando para reforçar o sistema de controle e fiscalização no comércio para evitar fraudes na venda de orgânicos sem certificação. “Quem trabalha duro pela certificação merece que seu trabalho seja valorizado”
Pedro Correa Neto enfatizou a importância da semana dos orgânicos para a valorização da cadeia produtiva de base agroecológica e citou o desafio enfrentado pelo Ministério na elaboração de novas políticas, como o Programa Nacional de Bioinsumos.
Fernando Schwanke afirmou que o Brasil tem condições de desenvolver uma agricultura sustentável e que os agricultores familiares e orgânicos podem alcançar o protagonismo mundial assim com os produtores de commodities.
Eduardo Sampaio reiterou que o Brasil tem condições de aumentar as vendas de orgânicos no mundo. Atualmente, o mercado brasileiro de orgânicos representa menos de 1% do mercado mundial, enquanto que as exportações brasileiras representam 7% do comércio exterior.
O secretário de Política Agrícola também informou que o novo Plano Safra vai dar “ênfase muito forte” aos pequenos e médios produtores rurais, para que eles agreguem conhecimento, valor e possam aumentar a oferta de produtos orgânicos no mercado. “Para os orgânicos, o mercado está posto, nós precisamos ocupar. A oportunidade está à nossa porta”, disse.
Demandas
Durante o lançamento, foram apresentadas algumas demandas dos produtores de orgânicos, como o desenvolvimento de máquinas agrícolas apropriadas para pequenas e médias propriedades, maior acesso a programas de créditos e financiamento, fortalecimento das comissões de produção orgânica.
Os produtores também pedem maior volume de pesquisas científicas direcionadas para o setor e mais facilidade de acesso aos bioinsumos, como sementes orgânicas, biofertilizantes orgânicos e defensivos biológicos.
A ministra respondeu que a produção orgânica tem sido valorizada pelo Ministério como todos os outros tipos de produção e que as demandas do setor já vêm sendo discutidas no âmbito da câmara setorial e das secretarias do Ministério.
“O Ministério está aqui para resolver estes problemas. Eu me coloco à disposição para falar com a Abimáquinas e pedi que essas máquinas sejam feitas de maneira mais apropriada para esta pequena agricultura. Se o nosso crédito tem algum problema para os produtores orgânicos, está aqui a Secretaria de Política Agrícola. Enfim, tudo aquilo que puder ser feito para ajudar o agricultor familiar para que tenha mais êxito, podem contar com esta ministra da Agricultura e com todo o Ministério”.
Campanha
Realizada desde 2005 em todas as regiões do país, a campanha é marcada por diversas atividades, como feiras, seminários, exposições, degustação de produtos, panfletagem, rodas de conversa, trocas de sementes, eventos culturais, educativos e visitas de campo sobre qualidade de vida, sustentabilidade e agrobiodiversidade.
Ao longo da campanha, serão repassadas nas redes sociais e em diferentes atividades presenciais informações sobre os cuidados, direitos e obrigações que os produtores, consumidores, processadores e comerciantes devem ter para garantir que, ao comprar ou consumir produtos orgânicos em feiras, lojas, hotéis e restaurantes as pessoas estejam, de fato, levando e consumindo produtos verdadeiramente orgânicos.
Além de estimular o consumidor a participar como agente no controle da qualidade, a mobilização deste ano visa estimular gestores municipais e estaduais a ampliarem a compra de alimentos da agricultura familiar e orgânicos para a merenda escolar, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).
A mobilização visa promover o produto orgânico e a conscientização dos consumidores sobre os princípios agroecológicos que viabilizam a produção de alimentos e outros produtos necessários ao homem de forma mais harmônica com a natureza, valorizando a biodiversidade, contribuindo para a saúde de todos e garantindo justiça social em todos os segmentos da cadeia produtiva.
A campanha inicia na última semana de maio de 2019 e se estende até maio de 2020, com eventos e atividades em praticamente todas as unidades da federação.
Confira a programação do seu estado na página do Ministério da Agricultura.

terça-feira, 28 de maio de 2019

Produtores de orgânicos devem seguir recomendações para ter certificação de qualidade

O agricultor Manoel Santos de Souza, 37 anos, descobriu o mundo dos orgânicos há mais de 16 anos. Natural de Barreiras, interior da Bahia, o produtor decidiu converter a lavoura convencional para agroecológica com o objetivo de aumentar o rendimento e a qualidade de vida da família.
Manoel adquiriu conhecimento sobre os orgânicos quando foi chamado por um agrônomo para trabalhar em uma chácara da região. Enfrentando vários desafios, o agricultor começou aos poucos a mudar sua forma de plantio depois de trabalhar em várias propriedades.
Em 2015, Manoel decidiu ter sua própria chácara e mudou-se para Brazlândia, uma das regiões administrativas de Brasília. Na chácara “Pedacinho do Céu”, Manoel planta em cinco hectares frutas, legumes, hortaliças e até algumas Plantas Não Convencionais, conhecidas como PANCs.
Entre os produtos cultivados estão batata doce, mandioca, abobrinha, couve, jiló, repolho, brócolis, japonês, brócolis, morango, banana, limão, laranja, goiaba, manga, chuchu e rúcula.
O sistema de produção é familiar. Manoel lida diretamente com a terra com auxílio de outros trabalhadores rurais. A esposa e a filha mais velha são responsáveis pela seleção dos melhores produtos, pesagem, empacotamento e colocação do selo orgânico. “Como tudo é feito manualmente, precisamos dessa força tarefa”, comenta Manoel.
“Não é fácil mexer com orgânico, mas é melhor. Não é fácil, porque tem muita mão de obra, muito cuidado. Tem que ser tudo pesadinho, tem que olhar o que é bom, o que é ruim, a gente seleciona mais, porque tem muitos clientes que chegam lá na feira e olham. Os clientes de orgânicos são mais exigentes”, comentou Francione Porto, esposa do produtor.
A produção rende para a família cerca de 35 mil toneladas por ano. Os produtos são vendidos duas vezes na semana diretamente por Manoel em feiras montadas em algumas quadras residenciais da área central de Brasília.
Manoel comenta que a procura tem crescido muito e que ele ainda não consegue produzir tudo o que os clientes pedem. “Atualmente, a demanda é bem maior do que eu produzo, a procura por produtos saudáveis cresceu bastante”.
Certificação de qualidade orgânica
Manoel está registrado no Cadastro Nacional de Produtores de Orgânicos, mantido pelo Ministério da Agricultura, e conseguiu a certificação para comercializar seus produtos como orgânicos junto à ECOCERT Brasil e ao Sindicato dos Produtores Orgânicos do Distrito Federal (Sindiorgânicos).
Para não perder o certificado, ele segue à risca as recomendações de produção agroecológica previstas na legislação de orgânicos brasileira. Entre os cuidados que ele toma está o plantio de margaridões ao redor da lavoura, que formam uma barreira de proteção contra insetos, pragas e partículas de insumos químicos trazidos pelo vento das propriedades rurais vizinhas.
“Sempre temos o cuidado de não plantar em uma área grande um produto apenas. A palha é para proteger o solo e ter mais produto orgânico na terra, além das barreiras de “quebra vento” impedindo a contaminação na plantação”, explica.
O Brasil tem cerca de 68,7 mil estabelecimentos que fazem
agricultura orgânica, segundo o último Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Mas o Cadastro Nacional de Produtores Orgânicos do Ministério da Agricultura tem atualmente cerca de 19 mil produtores e unidades de produção registrados.

Segundo a coordenadora de produção orgânica do Mapa, Virgínia Lira, o número é um indicativo de que há um universo grande de produtores orgânicos a ser alcançado pelo sistema e pelas políticas públicas do setor. “A legislação e o sistema de produção precisam ser desenvolvidos para incluir os produtores que praticam agricultura orgânica, mas ainda desconhecem as normas de certificação”, comentou Virgínia.
Desde 2010, o cadastro e a certificação de qualidade orgânica são exigidos para que os agricultores possam vender seus produtos como orgânicos em estabelecimentos comerciais como supermercados, lojas, restaurantes, entre outros.
O produtor pode obter certificação de qualidade orgânica por meio de um Organismo da Avaliação da Conformidade Orgânica (OAC) credenciado junto ao Ministério.
“O produto tem que estar certificado ou por auditoria, que são empresas certificadoras que aplicam, inspecionam as unidades de produção e verificam se a lei está sendo cumprida, ou os sistemas participativos de garantia, que são grupos de produtores que se organizam para uma autocertificação”, reforça a coordenadora de produção orgânica, Virgínia Lira.
Já os produtores da agricultura familiar podem se cadastrar junto ao Ministério da Agricultura para realizar a venda direta sem certificação. Neste caso, o produtor só pode vender para o consumidor em feiras, na própria propriedade, sem a intermediação de terceiros. Ele também fica habilitado para participar de compras do governo, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) ou o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA).
Produtos certificados por normas internacionais (como NOP, EU, JAS) não são reconhecidos automaticamente como orgânicos no Brasil e também deve receber certificação de acordo com a norma brasileira.
O que é o sistema orgânico de produção?
A diferença do alimento orgânico para o convencional vai além da ausência de resíduos agrotóxicos. De acordo com a Lei 10.831/2003, o sistema orgânico de produção agropecuária adota técnicas específicas que visam otimizar o uso dos recursos naturais e socioeconômicos disponíveis.
A produção orgânica também respeita a integridade cultural das comunidades rurais e tem por objetivo a sustentabilidade econômica e ecológica.
O modo agroecológico de produção minimiza a dependência de energia não renovável, maximiza os benefícios sociais além de priorizar métodos culturais, biológicos e mecânicos e elimina o uso de organismos geneticamente modificados e radiações ionizantes em qualquer fase do processo, desde o cultivo, transporte, armazenamento até a comercialização.
O sistema de produção orgânico tem por objetivo, de acordo com a legislação, ofertar produtos saudáveis isentos de contaminantes, preservar a diversidade biológica dos ecossistemas naturais, recompor ecossistemas modificados, incrementar a atividade biológica do solo, promover o uso saudável do solo, da água e do ar, manter a reciclagem de resíduos de origem orgânica, utilizar recursos renováveis, sistemas agrícolas organizados localmente e integrar os diferentes segmentos da cadeia produtiva de consumo de produtos, entre outros.

segunda-feira, 20 de maio de 2019

Você tem dúvidas sobre a produção dos alimentos orgânicos?

Marcelo Silvestre Laurino, Auditor Fiscal Federal Agropecuário SFA-SP,  esclarece as principais dúvidas em torno da produção orgânica:

1) Com a Lei dos Orgânicos (Lei 10831/03) em vigor, o que mudou no Brasil em relação a esses alimentos?

A Lei n° 10.831/2003 e seu regulamento estabeleceu normas para a produção, processamento, comercialização e identificação dos produtos orgânicos. A partir dali os produtores passaram a dispor de princípios e regras claras e objetivas para a obtenção dos produtos orgânicos o que lhes permitiu buscar a certificação dos sistemas de produção e, assim, conquistar a confiança do público consumidor. Um aspecto relevante no regulamento é que, a despeito de ser um conjunto de normas restritivas, também é um código de boas práticas que visa melhorar as condições de vida e saúde dos segmentos sociais envolvidos na produção e consumo.

2) Como é realizada a certificação dos alimentos orgânicos? Existe um selo padronizado para todo o território nacional? Qual é este selo?

A certificação de produtos orgânicos é realizada por organismos de avaliação da conformidade, que são as certificadoras e os sistemas participativos de garantia – SPG. Os produtos oriundos de sistemas acompanhados pelos organismos de avaliação da conformidade credenciados no MAPA recebem o selo de conformidade do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica. Além disso, a legislação brasileira permite a venda direta de produtos orgânicos não certificados diretamente ao consumidor final, desde que realizada por agricultores familiares organizados em organizações de controle social cadastradas no MAPA. Estes produtos, todavia, não podem ser comercializados no mercado atacadista ou varejista. Por se tratar de venda direta ao consumidor final, não usam o selo do Sistema Brasileiro.

3) Qual a importância da certificação para os consumidores?

Com a crescente procura de produtos orgânicos pelos consumidores e o distanciamento entre estes e os produtores, a certificação é necessária como garantia da qualidade orgânica dos produtos. Não há como saber se um produto foi obtido num sistema orgânico de produção, se não houver o acompanhamento do sistema de produção. E é esta a mensagem que o selo traz: o sistema de produção foi acompanhado e está em conformidade com o regulamento e é capaz de gerar aquilo que o consumidor espera de um produto orgânico.

4) Caso algum produto orgânico seja vendido sem o selo de certificação, como denunciar?

Produtos orgânicos somente podem ser comercializados sem o selo de conformidade orgânica se forem produzidos por agricultores familiares pertencentes a organizações de controle social cadastradas no MAPA e comercializados diretamente pelo produtor (ou alguém do seu grupo). Neste caso, será obrigatória a exibição da Declaração de Cadastro do Produtor. Caso não seja um produto em venda direta, ou seja, um produto vendido sem o selo numa loja ou supermercado, a fiscalização do MAPA deverá ser imediatamente informada porque, provavelmente, se trata de um produto clandestino.

5) Qual é o trabalho desenvolvido pelos fiscais federais agropecuários na fiscalização dos alimentos orgânicos? Como funciona este trabalho?

Uma das responsabilidades dos auditores fiscais federais agropecuários é auditar as certificadoras e os sistemas participativos de garantia credenciados no MAPA, o que também envolve visitas (auditorias-testemunha) às unidades de produção ou processamento. É ainda de sua competência a fiscalização do mercado e das organizações de controle social e seus produtores. Também é de responsabilidade dos fiscais federais agropecuários do MAPA a articulação interinstitucional para a instalação e funcionamento das Comissões da Produção Orgânica dos estados e Distrito Federal – CPOrg/UF, que são compostas paritariamente por representantes da Sociedade Civil e de órgãos governamentais. Entre outras funções, as comissões são encarregadas de acompanhar a rede de produção orgânica, assumindo o item mais oneroso dos processos de fiscalização que é a vigilância de mercado, ou seja, estar em todos os lugares e ter informações sobre tudo o que acontece. Como o conjunto das organizações representadas nas comissões cumpre este papel, as informações estratégicas geradas neste processo são direcionadas aos fiscais federais agropecuários para o exercício do Poder de Polícia, que é de sua competência exclusiva, contribuindo para maior eficiência e efetividade ao processo de fiscalização. Uma das características pouco elucidadas dos sistemas de fiscalização é sua capacidade de gerar informações estratégicas sobre o ambiente em que atuam, uma vez que as irregularidades apuradas revelam os gargalos do setor envolvido. Outro papel das CPOrg/UF é direcionar aquelas informações estratégicas às instituições que possam fazer uso inteligente delas, como os órgãos de pesquisa ou de extensão rural, na solução de problemas que, muitas vezes, são decorrentes de falta de informação dos agentes da rede de produção. Além disso, tem sido intenso o trabalho de capacitação de técnicos e agricultores na questão das boas práticas de produção orgânica e do cumprimento dos regulamentos vigentes, além das atividades de fomento ao uso de insumos e práticas adequadas na Produção Orgânica.

6) Quais são as principais diferenças entre produtos orgânicos e produtos que contêm agrotóxicos?

A Lei n° 10.831/2003 define produto orgânico como todo aquele obtido em um sistema orgânico de produção ou em um sistema extrativista sustentável. Ou seja, a qualidade de um produto orgânico não reside somente no produto em si, mas no sistema em que foi obtido. Não se trata somente de ausência de resíduos de agrotóxicos sintéticos, mas também há questões relacionadas com a fertilidade e a conservação do solo, ausência de produtos geneticamente modificados e radiações ionizantes, além de questões relativas ao ambiente – sustentabilidade ambiental, prevenção da contaminação do solo, água e ar por resíduos tóxicos, manutenção das áreas de preservação permanente e das reservas legais, da diversidade ambiental, assim como questões sociais – relações e condições de trabalho, soberania e sustentabilidade econômica, além de outros aspectos que se refletem na qualidade do produto e na composição nutricional.

7) E a diferença entre alimentos hidropônicos e orgânicos?

Há muitas diferenças. Os produtos hidropônicos são cultivados sem solo, e as plantas recebem nutrientes diretamente de uma solução salina elaborada com compostos químicos sintéticos que contém os nutrientes que necessitam. Nem sempre se garante o equilíbrio da composição das plantas neste sistema e o custo ambiental – água e energia é alto. Nos cultivos orgânicos a nutrição das plantas é realizada através de uma complexa interação entre as plantas, o meio físico do solo e, principalmente, os organismos vivos e as substâncias decorrentes de seu metabolismo ou decomposição. Como é um sistema que evoluiu através de milhões de anos na natureza, o resultado é uma nutrição vegetal equilibrada que se traduz em alimentos mais nutritivos, com melhor sabor e durabilidade.

8) Quais são os benefícios que os produtos orgânicos trazem aos consumidores e ao solo?

O cultivo orgânico torna o solo cada vez mais produtivo e equilibrado, através do estímulo das relações planta-solo-organismos e, também, pela ausência de contaminantes tóxicos ou persistentes que prejudicam a vida do solo. Aos consumidores, de uma forma direta, os produtos orgânicos tem maior qualidade nutricional, ausência de resíduos de substâncias tóxicas, melhor sabor e maior durabilidade. De uma forma indireta, o ambiente resultante de um sistema orgânico é estável e produtivo, atendendo o conceito da sustentabilidade: satisfazer as necessidades das atuais gerações sem prejudicar a capacidade das futuras gerações fazerem o mesmo.

9) Quais são os malefícios que os alimentos que contêm agrotóxicos trazem ao solo e aos consumidores?

Os sistemas industriais se baseiam na lógica da produção em ambientes desequilibrados do ponto de vista ambiental e nutricional com a consequente necessidade de constantes intervenções humanas, como a aplicação de agrotóxicos. Não se pode pensar em produção de alimentos, naqueles sistemas, sem a utilização daquelas substâncias. A maior parte dos agrotóxicos utilizados são moléculas exóticas na natureza que tendem a se acumular no ambiente e nos seres vivos que as ingerem. Os testes de segurança no consumo de alimentos com resíduos de tais substâncias apenas verificam o efeito da intoxicação aguda, ou seja, da dose máxima que podemos ingerir de uma determinada substância que, em função daqueles estudos, é limitada pela legislação pertinente.
Todavia não há nenhum estudo do resultado do consumo de tais substâncias em longo prazo, ainda que em doses menores, assim como não há estudos que levam em conta a interação entre os diversos princípios ativos que são ingeridos, dia a dia, pelas pessoas. O resultado disso é o crescente aumento de doenças degenerativas e alergias nos consumidores que vimos assistindo nas últimas décadas, sem nos dar conta de suas causas. Os efeitos no solo são decorrentes do efeito das substâncias químicas nos organismos vivos, que perturbam o equilíbrio entre as espécies e os processos naturais causando redução da diversidade e da estabilidade ambiental, culminando com um aumento na ocorrência de pragas e outras desordens populacionais. Além, é claro, da redução do aporte de matéria orgânica ao solo, que é fundamental para a construção da sua fertilidade e estabilidade.

10) Como funciona a agricultura orgânica de frutas, legumes e verduras? Como é feita a fertilização do solo e o combate a pragas?

A principal preocupação é a construção da fertilidade do solo, através de constantes aportes de matéria orgânica, promoção da diversidade (solo e ambiente) e a proteção do solo e da vida que nele se encerra. Não se consegue isso somente com fertilizantes orgânicos, como os estercos – que são importantes fontes de matéria orgânica e nutrientes, mas também com técnicas de manejo como adubação verde com leguminosas, manejo da vegetação espontânea, cultivos consorciados e utilização de resíduos animais e vegetais estabilizados biologicamente. Através de uma nutrição equilibrada, ou seja, quando a preocupação tenha sido construir a fertilidade do solo e não apenas nutrir as plantas (muitas vezes como se o solo e seus organismos não existissem), o resultado são plantas com composição química equilibrada e menos propensas ao ataque de pragas. Outras técnicas servem de apoio à sanidade vegetal, como a construção da diversidade no ambiente – cultivos consorciados, rotação de culturas, sistemas diversos, sistemas agroflorestais, proteção das áreas de cultivo por cercas vivas, e métodos culturais como plantio em épocas adequadas, seleção de espécies adaptadas às condições climáticas e resistentes às pragas e doenças e até mesmo a sincronia com as influências cósmicas, em função de recentes estudos que trouxeram evidências científicas da influência da lua e dos planetas na sanidade e desenvolvimento das plantas. Além disso, em casos excepcionais, os princípios e o regulamento da produção orgânica preveem o uso de produtos para o controle de pragas a partir de substâncias pouco tóxicas para o ambiente, para os trabalhadores e consumidores, algumas delas até comestíveis como os extratos vegetais – extratos de alho e pimenta por exemplo, além de substâncias minerais, controle biológico e substâncias químicas pouco tóxicas. Resumindo, não se trata de simplesmente proibir o uso de agrotóxicos sintéticos, mas de manejar sistemas para uma situação de equilíbrio onde não haja a necessidade de intervenção humana através daquelas substâncias.

11) E como é a produção de carnes e ovos orgânicos? Como os animais são criados?

Os sistemas de produção animal são baseados no bem-estar animal, ou seja, reduzindo o estresse dos animais (a exemplo de nós mesmos) a saúde é favorecida. As condições de criação devem corresponder, o tanto quanto possível, ao ambiente natural das espécies, permitindo a manifestação de seu comportamento natural. Não são permitidas mutilações, maus-tratos ou estabulação permanente de animais. A exemplo dos seres humanos, os animais em manejo orgânico devem ser alimentados somente com produtos orgânicos, ou seja, com alimentos de maior qualidade biológica. Apenas excepcionalmente se admite uma fração limitada da ração animal de origem não orgânica. Em caso de doenças, existem métodos de tratamento de baixo impacto ambiental e toxicológico e a terapêutica convencional é feita somente em casos extremos e de uma forma limitada, afastando o animal submetido a antibióticos ou drogas sintéticas do ambiente de produção.

Sempre que possível, o agricultor deve buscar a integração entre a produção animal e a produção vegetal, otimizando os serviços ambientais decorrentes da ação dos animais na unidade de produção que, além de outros benefícios, promovem a sustentabilidade econômica da exploração agrícola. Um dos fundamentos da Agricultura Orgânica é exatamente este, a visão integrada dos componentes de uma unidade de produção, o que muitos chamam de visão holística. Esse é o motivo que a Agricultura Orgânica é chama da de Orgânica: é porque a unidade de produção é considerada como um Organismo vivo, interativo, integrado e autossustentável. Não é porque se utilizam fertilizantes orgânicos em substituição aos fertilizantes minerais solúveis (adubos químicos), mas trata-se de enxergar um sítio, uma roça, uma fazenda o mesmo um quintal como algo vivo capaz de produzir saúde e sustentabilidade e não como máquinas de produzir proteínas ou commodities vegetais. 


segunda-feira, 13 de maio de 2019

Embrapa lança primeiro livro sobre controle não químico de plantas daninhas

“Controle de plantas daninhas: métodos físico, mecânico, cultural, biológico e alelopatia” é o título do livro lançado pela Embrapa e que está disponível para download gratuito na seção “Publicações” do Portal da Empresa. Segundo um dos editores técnicos, o pesquisador Maurílio Fernandes de Oliveira, da área de Produção Vegetal da Embrapa Milho e Sorgo, o livro é a primeira obra nacional a abordar o controle de plantas daninhas por métodos não químicos, “atendendo produtores das áreas de orgânicos, agroecológicos e a própria academia em si”. 

A publicação traz 10 capítulos, com enfoque em métodos de controle de plantas daninhas como roçada, eletrocussão, uso de plantas de cobertura, herbicidas naturais, controle biológico, solarização do solo, flamejamento, entre outros. No total, 30 especialistas são autores da obra, que traz a descrição de técnicas testadas e disponíveis para uso e por técnicas em desenvolvimento, fundamentadas em princípios biológicos, mecânicos, de cobertura morta e de alelopatia. 

No prefácio, o chefe-geral da Embrapa Milho e Sorgo, Antônio Álvaro Corsetti Purcino, diz que o primeiro objetivo da obra “foi produzir literatura nacional abordando os métodos de controle de plantas daninhas para uso em agricultura orgânica e agroecologia”. Segundo ele, o livro contribui para o tema com literatura complementar ao método químico, que é amplamente estudado e pesquisado. “Detectamos que o controle não químico de plantas daninhas demanda esforço da comunidade científica tanto na produção de tecnologias de controle quanto em resultados do uso dessas tecnologias”, conclui. 

Além do pesquisador Maurílio Fernandes de Oliveira, é editor técnico o pesquisador Alexandre Magno Brighenti, da área de Fitotecnia da Embrapa Gado de Leite (Juiz de Fora-MG). Os demais autores representam instituições de ensino, pesquisa e extensão, como diversas Unidades da Embrapa e universidades. Para consultar uma breve descrição sobre o livro, acesse a área de Publicações do Portal da Embrapa Milho e Sorgo. Para baixar gratuitamente a publicação em PDF, clique aqui.

sexta-feira, 10 de maio de 2019

3ª convocatória XI CBA: normas e prazos para submissão de trabalhos


Encontra-se aberto o período para submissão de trabalhos para o XI Congresso Brasileiro de Agroecologia (CBA), que será realizado na Universidade Federal de Sergipe (UFS) entre os dias 04 a 07 de novembro de 2019. Promovido pela ABA-Agroecologia e pela Rede Sergipana de Agroecologia (RESEA), o XI CBA traz a força do nordeste e dos processos preparatórios descentralizados nos territórios. Nesta convocatória, a Comissão Técnico Científica apresenta as normas de submissão e convida a todas e todos para participar desta construção e relembrar nossa Carta Anúncio – Renovando Ciclos, rumo ao XI CBA

Os trabalhos devem ser submetidos até o dia 19 de maio de 2019 e podem ser enviados em três formatos diferentes: trabalhos científicos, relatos de experiência técnica e relatos de experiência popular.

São considerados trabalhos científicos os resumos expandidos que contenham resultados de pesquisas e estudos ou ensaios teóricos inovadores, enquanto apenas os relatos de experiência técnica devem descrever projetos e/ou ações desenvolvidas por instituições de ensino, pesquisa ou extensão, em parceria com a sociedade civil, propondo também uma análise mais profunda e conceitual de sua contribuição para a Agroecologia.

Já os relatos de experiência popular devem ser apresentados pelas(os) próprias(os) agricultoras, agricultores, comunidades e povos tradicionais ou organizações sociais, trazendo vivências contextualizadas segundo os princípios da Agroecologia. 

O envio dos trabalhos deverá seguir as orientações descritas no documento disponibilizado ao final do texto e devem ser submetidos exclusivamente através do site da Revista Cadernos de Agroecologia, pelo link http://cadernos.aba-agroecologia.org.br/index.php/cadernos . Ao final do texto disponibilizamos também um pequeno passo a passo de como realizar a submissão, mas, caso tenha dúvidas, nos escreva – secretaria@aba-agroecologia.org.br

“Esperamos receber trabalhos que contribuam de forma efetiva e significativa para a construção do conhecimento agroecológico, considerando a contribuição da ciência, da cultura e da arte para a democratização dos sistemas agroalimentares a partir da Ecologia de Saberes”, explica Amaury Santos, coordenador da Comissão Técnico-Científica do XI CBA.